Entrevista exclusiva com o Prefeito de Diadema


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Diadema: Michels afirma que pegou uma cidade falida



O prefeito de Diadema, Lauro Michels (PV), concedeu entrevista exclusiva ao Diário regional, e esclareceu os temas mais polêmicos sobre a cidade. Michels, que está em seu primeiro mandato como prefeito, comentou sua relação com a Câmara, fez críticas à oposição e reconheceu que o município tem como maior problema o sistema de Saúde.
Por que o senhor decidiu fazer uma festa do Dia do Trabalhador depois de tantos anos em que Diadema não promove este tipo de evento?
Diadema é uma metrópole, e acho que tem o peso e merece uma festa. Estamos fazendo no domingo justamente para as pessoas poderem se divertir e no dia primeiro, quando ganharem a folga, irem para as festas maiores. A prefeitura está entrando com praticamente zero de recurso. É tudo parceria com os sindicatos. A doação de alimentos vai para diversas instituições sociais cadastradas pela prefeitura.
Recentemente, a prefeitura fechou acordo com os servidores para conceder reajuste. Como ficarão as outras reivindicações?
Há anos que não se dá um aumento (6,87%) em uma proporção dessas. É um ganho para os funcionários públicos. Isso mostra o compromisso da nossa gestão com os trabalhadores. Quero agradecer aos servidores por tudo que fizeram até agora e pedir o máximo de empenho para que no ano que vem a gente possa repetir o reajuste em uma dose maior. Estamos trabalhando nas outras reivindicações. O vale-alimentação já reajustamos. A minha vontade era pagar em pecúlio, não pagar em forma de vale, mas sim, dar o dinheiro no holerite. Estamos estudando isso.
O que a prefeitura fez para chegar a esse porcentual de reajuste?
Primeiro, segurei os cargos em comissão, as horas extras, o custeio. Tudo. Fechei a torneira. O Refis (Programa de Recuperação Fiscal) e outros recursos vão dar elasticidade no orçamento, a fim de conceder esse reajuste. Muitos funcionários estão chegando a 35 anos de trabalho. Então, entrará uma nova safra de servidores e, com isso, vamos baratear o custo com a folha de pagamento.
Haverá contratações?
Estamos analisando a contratação de mais guardas municipais. Hoje temos cerca de 190 GCMs e quero aumentar o efetivo em pelo menos 50% ou 60% ao longo do meu mandato.
Em relação à dívida da cidade, o que teve de ser readequado no plano de governo?
A dívida está aí e, agora, alinhada para os pagamentos. Foi acumulada ao longo das gestões passadas e se tornou uma “bola de neve”. Vejo que é responsabilidade dos gestores que saíram e não se preocuparam em fazer plano de pagamento. Não quero culpar ninguém. Porém, desejo deixar claro para a população, que tem de saber, pois, é dinheiro dela. Não adianta falar que débito do poder público não se paga. Uma hora o poder público te emperra e a prova disso são os precatórios. Protelaram tanto que deixaram acumular muito e se acontecer desses precatórios voltarem, a cidade vai ficar prejudicada.
Quanto a mudanças,  tive de readequar plano de investimento. Vamos fazer uma reunião com o secretariado para discutir as principais metas do governo. Você pega uma prefeitura cujo capital de investimento é zero, fica complicado se pensar em fazer alguma coisa. Se não tem recurso, não se faz as coisas. Tenho recebido muitas críticas da oposição, mas (os petistas) tiveram 30 anos para trabalhar na cidade e o resultado foi esse. Pegamos um município totalmente falido e em débito com seus credores. Hoje tenho de mostrar que entramos aqui para ter austeridade com o dinheiro público. Para que possamos fazer obras e feitos de grande porte.
Vai demorar quanto para que Diadema possa voltar a investir?
Um ano. Este ano todo será de recuperação, para termos investimentos em 2014. E será com capital próprio de investimento.
O senhor declarou que fará mudanças no secretariado. Como serão essas mudanças e por quê serão feitas?
Estamos estudando, na própria composição da Câmara. Às vezes os vereadores não têm muita paciência de esperar. Porém, tenho o direito de mexer para poder acoplar nosso grupo que chegou até aqui e também aqueles que não se elegeram. Essas pessoas têm de entender que tudo demanda um tempo. Participam do governo. Não adianta falar que não participam. Os 15 parlamentares participam da administração. Só cobro é que essas pessoas trabalhem. Aqui não é cabide de emprego, é trabalho. Deve ter o retorno que a população espera. Por isso anunciei que terá corte de pessoas. Isso é normal.
Como o senhor tem avaliado o trabalho dessas pessoas que serão dispensadas?
Faltam, não têm comprometimento com o governo. Não dão justificava, não participam das ações da administração; não se preocupam. Porém, a população se preocupa. É muita gente que depende de mim. Essas pessoas têm de saber que não estão aqui para dar satisfação ao prefeito, mas sim às pessoas que estão ao lado delas. O que estou fazendo não é nada de outro mundo, nada absurdo. Só estou cobrando trabalho e empenho. Um setor não pode ficar sozinho, sem ninguém para responder. Os chefes de divisão, quando um sai, o outro tem de ficar. Essas mudanças vão se estender a todos. Onde eu achar que está errado, vamos mudar.
Essas alterações vão se estender aos prestadores de serviço terceirizados?
Sim. Por exemplo, para as pessoas que fazem obras, que são terceirizadas, estamos vendo a qualidade desses trabalhos. Se for ruim, vamos cortar contrato. Já cortei contrato ruim. Empresa de segurança, estamos readequando os contratos. Empresa de alimentos, também. Só a coleta de lixo que, por incrível que pareça, é muito bem avaliada pela população. Já o transporte público é deficitário em toda a região. Por isso, estamos estudando modificações nos anéis viários da cidade. Temos obras extremamente importantes que precisam ser feitas para que o trânsito flua. É uma das preocupações dos munícipes. As pessoas reclamam muito do viário da cidade.
Muitas obras no sistema viário da cidade eram esperadas como contrapartida dos empreendimentos imobiliários que se instalaram aqui nos últimos anos. Como ficaram essas contrapartidas?
Não houve. O Shopping Praça da Moça, por exemplo, não construiu um túnel até a praça de mesmo nome, não fez a rotatória e nem asfaltou o entorno. No empreendimento da Tecnisa (localizado na avenida Fábio Eduardo Ramos Esquível) apenas uma pequena rua será aberta. Isso foi aprovado e não tem como voltar atrás. Acabou e é grave para a cidade. O município perdeu.
A região no entorno do shopping se tornou caótica, o senhor acredita que é possível algum tipo de parceria?
Acho muito difícil o shopping voltar a negociar. Porque não tem nenhum instrumento legal que torne possível nós fazermos isso ser executado. Porém, concordo que a situação do entorno está caótica e tende a piorar com entrega de novos prédios nas imediações. A cidade já é adensada, o território, pequeno, e não fazem as coisas que deveriam fazer. Fica complicado. É só uma questão de tempo para que esses problemas fiquem mais complexos , tornando difícil a sua solução.
O senhor tem analisado em alguma alternativa viária para a cidade?
Sim, já fiz o pedido para o governador (Geraldo Alckmin). Um viaduto na avenida Sete de Setembro com a Roberto Gordon. O outro será na rua Ferraz Alvim, atravessando para o Serraria. No local pretendo construir uma nova saída para a Imigrantes. Protocolei isso com o governador, que sinalizou positivamente., Agora, estou esperando se será concretizado. Estou esperando uma resposta. Se (Alckmin) é meu parceiro de verdade e quer que seja parceiro, tem de me dar uma resposta daquilo que nós precisamos.
Quais as medidas jurídicas que a prefeitura esta tomando em relação às irregularidades que encontrou?
Já denunciei ao Ministério Público. Relatoriei tudo e mandei para o MP, que abriu um inquérito. Fiz minha parte. Não sou polícia, não sou investigador, nem promotor. Só relatei aquilo que encontrei a um órgão competente de investigação. O mais grave já está encaminhado.
Seu relacionamento com a Câmara, com a oposição e com o presidente da Casa, como é?
Com o Maninho (Manoel Eduardo Marinho, PT, presidente da Câmara) meu relacionamento é relativamente tranquilo. As pessoas só têm de entender que quando fui oposição na cidade não fiz o que estão fazendo. Eu colaborava, ajudava. Não fazia um desserviço. Não inaugurava a obra de ninguém. Vamos admitir, inaugurei obras que estavam paradas desde agosto do ano passado. Por exemplo, quanto à limpeza da cidade. Parece que tem vereador que quer que a cidade continue suja. Está mandando as pessoas jogarem lixo na rua. Me estranha muito quando as pessoas falam que este governo está fechando Hospital Infantil, UBS (Unidade Básica de Saúde), se mal começou ainda. Não tivemos o tempo de fazer isso. Estamos estudando a reabertura, queremos uma referência de hospital para crianças aqui na cidade. Nesta quinta-feira vamos enviar para a Câmara um projeto de aumento do salário dos médicos.
A Saúde é colocada como o principal problema de Diadema, como vê esta questão?
O principal problema do Brasil hoje é a saúde. Em Diadema, hoje, a Saúde está caótica, justamente por causa dos desmandos que tivemos. O Quarteirão da Saúde é um “elefante branco”. É um prédio maravilhoso, mas se tivesse pego esses R$ 70 milhões e investido em tecnologia nas UBSs já estava bom. Estamos sofrendo boicote e estamos investigando isso. As atas de remédio estão todas pagas. Os problemas de abastecimento, na verdade, são boicotes. Porque tem gente terceirizada na distribuição que é aliada ao PT e está boicotando.
A cidade terá mais obras este ano? O que será concluído e iniciado?
Vamos reiniciar o recapeamento do Jardim Rosinha e as 21 obras paradas até o fim de maio. Até a primeira quinzena de junho estará tudo reativado. Agora teremos cronograma de início de várias obras novas que vamos passar aos poucos. Porém, terá muita novidade boa.